SOBRE AS PALAVRAS


SOBRE AS PALAVRAS
Existe uma infinidade de letras organizadas nos alfabetos, outras tantas grudadas nos teclados qwert`s da vida.  Há certamente, diversas desenhadas com tinta em papel, destas tímidas que pouco vemos. Portanto, muitos as, bs, cs, ds e assim por diante, pairam por aí solitárias sem ter o que dizer. Sozinhas não são nada! Nada dizem, como já dito. Mas, eis o milagre: Elas podem ser JUNTADAS!!!
            Juntas e reunidas podem ser até repetitivas (ou até mesmo rimar), mas enamoram-se formando palavras. Algumas mais conhecidas de uso cotidiano, e outras mais, digamos...inefáveis. Tem as engraçadas, do tipo que de tão xeretas parecem que ficam inticando com a gente.
As letras enamoradas, juntadas formam palavras. Várias palavras juntas formam textos, que são, nada mais pouco menos, que um bando de palavras que marcham rumo a uma suposta verdade, ou busca dela, seja científica, filosófica, poética, ou blá, blá, blá, mesmo. E veja bem que o texto blá, blá, blá é um tipo malandro, pois tem a capacidade de se infiltrar em todos os outros tipos de textos. Ele geralmente fica naquele cantinho, muitas vezes pouco notado, chamado “entrelinhas”.
Todas as letras, palavras, textos, tem umas regras ditas “gramaticais” que garantem que todos as entendam, mas [leia baixinho de agora em diante].... cá para nós! Devem ser quebradas, burladas, porque só assim podem nascer outras palavras, outros textos, outros significados, outros conhecimentos, outros mundinhos.
A origem das palavras foi estudada, e adivinha!? Não nasceram de um facho de luz vindo das estrelas. Elas foram criadas por homens de diferentes épocas, lugares e culturas. O caminho foi longo: antes resmungaram e desenharam muito, só depois criaram as falas, as letras, as palavras, os textos e muitas e muitas outras coisas.

SOBRE  RESMUNGOS, DESENHOS E PALAVRAS

Resmungo, segundo o meu dicionário digital éFalar entre dentes e com rabugice.. Dar sinais de descontentamento, dizendo coisas desagradáveis em voz baixa. Murmurar.” Portanto não é a palavra mais adequada visto que quem resmunga já sabe falar, e no início da humanidade as pessoas ainda não sabiam , ao menos da forma que entendemos a fala hoje. Resmungo seria mais adequado para falar do Zé Buscapé, esse sim vivia resmungando, o pobre infeliz.
O correto seria: no início da humanidade homens e mulheres nômades já possuíam as condições naturais para desenvolverem a fala, pois eram dotadas de cordas vocais, entretanto ainda emitiam sons desconexos, misturados a gestos, não correspondendo a uma forma ordenada de comunicação oral.
Acho que já me expliquei demais. Quer saber? Prefiro dizer que resmungavam!
O fato é o seguinte: Quando a humanidade se deu conta estava no mundo. Um mundo bem diferente, sem luz elétrica, sem água encanada, sem Fernando Pessoa, sem Chico Buarque de Holanda, sem Oswaldo Montenegro, sem internet, sem celular ou dicionário Aurélio.
Era a pré-história, assim definida porque a infeliz humanidade ainda só resmungava e não sabia juntar palavras, muito menos escrevê-las. Pré-história é uma definição bem safada para aquele período, diga-se de passagem. Como se antes da invenção da escrita a humanidade não tivesse feito história.
Mas voltando ao nosso assunto, homens e mulheres não nasceram falando, eles apenas, resmungavam e gesticulavam para poderem se comunicar. Gradualmente desenvolveram resmungos diferentes para cada coisa e assim nasceu a fala. Cada vez mais aperfeiçoada o homem foi ficando mais e mais papudo!
A comunicação era feita também por desenhos, não feitos no Photoshop porque Photoshop não havia, nem com lápis de cor em caderno de desenho porque nem isso havia. Eles desenhavam em paredes de cavernas com carvão e misturas de óleo de animal e pigmentos retirados de fontes diversas.
Encurtando milhares de anos esta história o homem simplificou cada vez mais os desenhos, aperfeiçoou os resmungos, até que eles não pareciam mais com nada visto na natureza, eram desenhos abstratos, e resmungos ordenados, cada um representando uma coisa e cada vez mais, lentamente, esses desenhos e resmungos tomaram semelhança com letras e falas, sendo organizadas lentamente, chegando ao que hoje conhecemos como letras e falas.
Assim, como brevemente acima digitado, as letras e falas não nasceram de um facho de luz vindo das estrelas.
            Mas o mais impressionante e irritante dessa história toda é que de criadores viramos prisioneiros de palavras ditas ou escritas, como se elas fossem a forma mais exata de comunicação entre as diversas existentes neste mundarél.
             Mas atenção! As palavras ditas ou escritas são muros, mais escondem que revelam.

SOBRE AS LIMITAÇÕES DAS PALAVRAS

Tem um monte de gente falando o que quer pelo mundo, em línguas diversas, com recursos variados, com ideias malucas, outras sensatas.  Outros tantos escrevendo textos unem as palavras que parecem marchar rumo a uma suposta verdade! Assim nos comunicamos, movidos por essa necessidade constante de conversar.
Todas as conversas nos auxiliam para nossos relacionamentos sociais, pessoais, profissionais etc. Afinal, é conversando que a gente se entende! (Nem sempre, as vezes da briga feia, com direito a olho roxo e tudo). Falar é a forma mais direta e objetiva de comunicação. Se queremos expressar um sentimento, quase sempre há uma palavra, ou uma dúzia delas, que ditas traduz em parte o que é sentido. Se queremos dar explicações basta escolher bem as palavras e pronto, nos saímos, quase sempre, direitinho!
Quando não encontramos palavras , escritas ou ditas, que deem conta de amenizar um sentimento ou dar uma explicação experimentamos uma frustração, que é a de saber que não são suficientes para tudo. Esse sentimento é bem comum, porque as palavras nasceram de sínteses genéricas demais.
Aperfeiçoadas durante milhares de anos, não pudemos ajudar a criá-las, pelo simples fato de lá não estarmos (salvo Highlander, Ramirez e um ou outro vampiro). Por uma safadeza do destino, ou por causa de uma escola com amnésia, as palavras nos foram dadas e exaustivamente repetidas em nossos cadernos de caligrafia como se surgidas de um facho de luz vindo das estrelas. Mas já sabemos que isso é uma puta mentira!
Resta-nos o problema de que, como foram dadas prontas, e são sínteses genéricas demais. Nos faltam às vezes... Nos deixam na mão! Mas não vamos culpar tanto as pobres e tão úteis palavras, elas não entendem exatamente seu ânimo, não sabem o que se passa contigo. A gramática e a fonética não foram feitas das mesmas lembranças, vitórias e frustrações que você.
Triste e trágica constatação: As palavras ditas ou escritas muitas vezes nos deixam na mão e não temos mais como partilhar aquele nó na garganta, aquela coisa intuída que não se consegue dizer, aquele gesto ou imagem que só o olhar parece entender.