quarta-feira, 23 de junho de 2010

PILHAGEM


De mim nada mais partirá!
Serei denso, inteiro,
nada mais vazará.

Nenhuma trégua me fará baixar a lança.
Ninguém terá nada!

Agora vou tomar, pilhar,
Sugar a força,
revertê-la para mim.

Nenhuma trégua me fará baixar a lança.

É hora de começar!!!


RELÓGIO

O relógio nunca para!
O ponteiro dos segundos sempre ultrapassa os minutos,
o ponteiro dos minutos sempre ultrapassa as horas.

O ponteiro das horas parece parado.
Ainda assim as horas passam rápido demais.

Andando em círculo os ponteiros nunca param,
ainda assim não chegam a lugar algum.

Os ponteiros foram amaldiçoados pelo tempo.

Há quem passe dias olhando o relógio!

sexta-feira, 18 de junho de 2010

RESIGNAÇÃO

A cada minuto passado
você se arrepende
de não ter dito nada no minuto anterior.
E nos momentos seguintes
continua calada.

Você está envolta em uma bolha
que não consigo atravessar.

terça-feira, 15 de junho de 2010

NA RUA É PRECISO CUIDADO

O poeta nunca sai na rua,
ele retira a capa de poeta
e sai como homem.

Nas ruas há homens diversos.
Sempre devemos andar de olhos abertos.
Qualquer um pode ser poeta.
Nunca se sabe!

O poeta, na rua é camaleão assustado.
É bom ter prudência!

A qualquer momento,
sentindo-se acuado,
em desespero!
O poeta pode te jogar uma poesia na cara!

Foto escolhida em homenagem ao Poeta de Enéas Marques- PR Abel Marchioro

sexta-feira, 4 de junho de 2010

CULPA

Pudera eu culpar alguém,
Ou mesmo assumir esta culpa.

Mas ninguém a merece!
Não é seu nem meu o crédito.
Nem eu nem você a inventamos.

A culpa não tem rosto,
não tem dono.
Ela só paira por ai:
Apontando para mim,
olhando duramente pra você

Ela está sempre no ar,
não tem o que fazer.

INTERPRETAÇÃO

No palco,
quanto contracenam
bons atores,
eles esquecem a verdade.
Só quando se cruzam os olhares
lembram a infeliz realidade.

Enquanto se finge,
tudo anda muito bem:
Cada um tem um lado,
um interpreta de cá
outro de lá,
um finge na direita
outro disfarça na esquerda,
por vezes atrás
outras na frente.

No palco se finge
de um fingimento bonito de ver.

EU E O OUTRO

Eu preciso ser outro!
Por um curto tempo.

E sendo outro
sentir como ele,
ouvir o que ouve,
gostar do jeito que gosta,
sofrer por ele
aquelas pequenas mazelas.

Ser surpreendido
por lembranças que não vivi.
E dividir um pouco
a culpa que não é minha.

É preciso ser outro!
Por um curto tempo
sugar o que ele sabe,
sentir seus cortes,
ver com sua miopia,
mancar com sua perna mais curta,
apoiar em sua bengala.

De vez em quando
preciso ser outro.
Por um curto tempo
me ver de fora de mim.